Ele estava espreitando pela janela. Não sabia quem era ela nem de onde vinha. Sabia que tinha que continuar observando-a como se ela fosse desmanchar a qualquer momento. Capturar. Era isso que ele queria! Capturar a imagem. Cada detalhe, o contraste com o fundo, sua silhueta. Assim ele se comportava com tudo que achava belo. Ficava hipnotizado observando minutos e, às vezes, horas.
Chegou em casa e rememorou a última bela visão que havia tido naquele dia. De olhos fechados ele a viu. Cabelos cacheados, longos até a altura dos ombros. Que ombros... lindos ombros claros com pequenas manchinhas de sol. Ficou imaginando aqueles ombros mais de perto... e mais perto... ombros de uma pele delicada, suave... penugem clara mesclando pêlos loiros de tons claros a outros mais escuros. Deu um longo suspiro... abriu os olhos e reviu o teto. Fechou-os de novo e viu os ombros e um pouco mais acima destes. A sa-bo-ne-tei-ra. Era assim que ouvia chamar quando pequeno aquela rentrância entre a clavícula e o músculo trapézio. Ficou envaidecido de ainda lembrar o nome de alguns músculos aprendidos durante as enfadonhas aulas de anatomia. Mas voltando à "saboneteira", como pode um nome cair tão bem? De fato, caberia ali um sabonete, não muito grande e nem pequeno demais. Imaginou pessoas andando elegantemente equilibrando sabonetes nas "saboneteiras". Cada um com seu sabonete de tamanho ideal e, assim, lhe venho uma dúvida... e as gordinhas... haveria para elas lugar para um sabonete ou seriam estas desprovidas de saboneteiras? Bem do mundo... Nem todos são iguais. Mas não haveria igual saboneteira como a que ele viu hoje.