domingo, julho 23, 2006

Renovação em Amélie Poulain

Hum... Sou uma pessoa extremamente nostálgica. Este é meu karma. Demoro pra me desvencilhar dos amores... Sejam eles pessoas, músicas, filmes, cenas... Enfim, por aquilo que acho belo... Fico relembrado durante muito tempo o que amei. Sei que não é saudável ser assim... Mas é como um vício... Ou seja, in-con-tro-lá-vel! Ouço uma mesma música várias vezes. Vejo um mesmo filme várias vezes também... Não só na película, mas na minha mente. Vejo-me personagem, cheia de histórias interessantíssimas. Porém, a minha vida, como a maioria das vidas que perambulam por aí, não tem histórias muito interessantes... Sofro pelo que não sou e o que não fui... Tenho um apego profundo a algumas coisas do passado, um passado que não vivi. Ouço as histórias dos mais velhos e fico lembrando desse passado que não é meu, mas que nele às vezes me vejo inserida. Sou uma idealista. Idealizo mil coisas em cima do meu passado e dos outros também. Certa vez, ouvindo meu pai falar das loucuras da juventude, quando minha tia e ele fugiram de madrugada para ser engolidos pela noite com cerveja, jovem-guarda e os “brotos”, consegui não só enxergar nitidamente tudo aquilo como também estar lá. Como? Um teletransporte muito eficiente dessa minha mente muitíssimo imaginativa.
Então... Hoje vi um filme que me deixou assim, viajante... “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, é belo, do jeito que eu gosto. Pequenas coisas, algo sutil sobressaindo sobre os tons berrantes. Uma garota com olhos grandes, curiosos, querem captar tudo, mas dá mais importância aos detalhes sutis, simples, muito simples. Ao acabar de assistir o filme, me senti envolvida por aquela atmosfera, senti uma vontade louca de cozinhar. Sentir o cheiro da cebola e do pimentão fritando no azeite. Em seguida o alho, hum... stac! O estalar disso tudo no azeite é alegre. Depois tomate, cenoura, abobrinha, mexe, mexe com a colher de pau, porque só serve se for com a colher de pau. Me sinto uma cheff francesa! Condimentos... Pimenta-do-reino, salsa, sal, curry e açafrão. Deixo separado. Preparo a massa da torta no liquidificador. “Untar”... É uma técnica terapêutica. Deve ser tão eficiente quanto o tai-chi-chuan. Passo manteiga na forma. Despejo o trigo, gira – bate – gira – bate – gira – bate. É bonito ver a farinha girando e grudando na forma. E depois despejo a massa na forma “previamente untada”. Coloco o recheio vegetariano. Sim, sou vegetariana e minha comida é colorida. Cubro com o restante da massa que ficou no liquidificador. Levo ao forno. E o cheiro vai subindo, a massa está assando. Fecho os olhos, quero captar a essência daquela massa. Pena saber o que vai nela. Queria adivinhar. Abro os olhos, vejo que na porta da cozinha está tudo muito claro no quintal. Me aproximo e vejo um céu azul com poucas nuvens claríssimas. Algodão. Passando. Meus olhos as acompanham lentamente. Por um momento esqueço os problemas do mundo... Esqueço os meus problemas, mas só tempo o suficiente para me recuperar, recuperar minhas forças e minhas esperanças no mundo que penso novamente valer à pena. E penso novamente nos problemas porque penso agora ter forças infinitas para resolvê-los.