sábado, junho 16, 2007

Paralisação na Universidade Federal de Sergipe

Ainda acredito no poder de manifestação do povo! Na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), os estudantes somaram-se à luta dos servidores e, posteriormente, ocuparam a Reitoria, conseguindo assim que a Reitoria atendesse quase toda a pauta de reivindicações. Por que não podemos conseguir também?

Por Lorena Ribeiro

Em 44 das 45 Universidades Federais do País, com exceção dos docentes, pelo menos um de seus segmentos (ou técnicos ou alunos) está em greve. Por que isso não passa na mídia televisiva? Por que não é de interesse, pois é interessante aparentar que são casos isolados. Existem ainda hoje diversos profissionais da rede pública federal que estão em greve (Ibama, Escolas Técnicas e Agrotécnicas e etc.). E o que está acontecendo com o Brasil?

O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Sergipe (DCE/ UFS), alguns estudantes e diversos Centros e Diretórios Acadêmicos têm promovido espaços de discussão sobre o que está acontecendo com a Universidade Pública, com os demais serviços públicos e o que pode acontecer com implementação de medidas como o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).

Sabendo que vivenciamos um regime de participação democrática, o DCE seguiu o nosso estatuto e promoveu uma Assembléia Geral dos Estudantes, maior espaço de discussão e deliberação estudantil, em dois turnos, de manhã e à noite, para que se abarcasse o maior número de pessoas possível. A divulgação foi feita com antecedência de duas semanas, período maior do que é previsto no estatuto (5 dias úteis), através de passadas em salas de aula, cartazes, folder’s, lista de e-mails e via DAA.

Para subsidiar a discussão que viria a ocorrer na Assembléia, oito dias antes da mesma foi promovido uma plenária de discussão sobre “o papel da greve hoje, sobre a greve dos servidores da UFS” que ocorreu também em dois turnos, de manhã e à noite. No dia 13 de junho houve a Assembléia Geral dos Estudantes na qual se discutiu:

  • A questão dos estudantes que dependem do Restaurante Universitário (Resun), da Biblioteca Central (Bicen) e demais serviços providos pelos funcionários da UFS;
  • Discutiu-se ainda o apoio à greve dos servidores que têm em sua pauta não somente a questão salarial, mas a defesa da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade (dentre as pautas deles estão a não transformação do Hospital Universitário em Fundação Pública de Direito Privado, revogação de algumas leis do PAC que prevêem contenção de gastos com os servidores federais durante 10 anos! Quem quiser baixar “Quem vai pagar o PAC?” acesse http://www.assibge.org/);
  • E inclusão de uma pauta estudantil caso fosse deflagrada a paralisação dos estudantes.

Bem, não acompanhei a Assembléia da manhã, mas a da noite foi bastante acirrada. Após discussão sobre apoio ou não à greve dos servidores, houve votação e ganhou a proposta de apoio a esta categoria. Em seguida foram feitas discussões sobre a proposta de greve estudantil onde foram colocados argumentos contra (o fato de já estarmos em final de período, que muita gente quer greve por causa das festas, e etc) e a favor da paralisação dos estudantes (o prejuízo dos alunos que dependem dos serviços básicos de assistência estudantil, o favorecimento da conjuntura – na qual temos inúmeras instituições em paralisação no Brasil e ocupação de diversas universidades federais – para a reivindicação de uma pauta específica dos estudantes da UFS em defesa da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade). Enfim, após a defesa das propostas, houve votação e com a participação de 1850 votantes (o maior número já visto numa Assembléia Estudantil da UFS), na qual cerca de 1200 votaram a favor da greve, foi então deflagrada a Paralisação dos Estudantes.

Eu sou da Comissão de Mobilização e da Frente de Paralisação, tenho ajudado a dialogar com estudantes e professores, e tenho também ajudado a construir atividades diárias. Nosso movimento é pacífico, dialógico, autônomo e suprapartidário, ou seja, está acima de partidos e luta pelos interesses dos estudantes. Temos realizado plenárias, reuniões das comissões (que são 4: comunicação, mobilização, infra-estrutura e atividades), discussões e etc. Estamos tentando manter contato com diversos segmentos da sociedade, inclusive com os movimentos sociais. Entendemos que a classe docente não está em greve e, por isso não atrapalhamos o funcionamento dos blocos que têm laboratórios de pesquisa. Entendemos ainda que estes professores devem estar comparecendo nas salas para não dar aula, mas que nós estudantes, enquanto classe que está paralisada, não devemos comparecer. O professor não pode reprovar por falta ou não pode considerar o assunto da disciplina como dado caso não haja alunos em sala de aula. O professorado ainda não tem posicionamento contra ou a favor de nossa paralisação e não deve utilizar meios escusos como ameaças de reprovação e etc para intimidar os estudantes.

Neste fim de semana (16 e 17/06) estamos acampados na UFS para evitar que as carteiras sejam colocadas de volta nas salas das didáticas por profissionais terceirizados e que o Rei-tor Josué Modesto envie nota à imprensa avisando que na segunda-feira haverá aula normal, ignorando o posicionamento dos estudantes, ou seja, queremos manter a estrutura de nossa paralisação. A mídia oficial costuma distorcer a realidade, por isso peço que acessem os diversos meios de comunicação com as versões de ambos os lados, contra e a favor da greve. Inclusive, que acessem meios de comunicações alternativos como o nosso blog: http://www.greveufs2007.blogspot.com/; e o Centro de Mídia Independente (CMI), que congrega diversos voluntários no Brasil todo para dar informações que não incorrem na mídia oficial. As manifestações dificilmente são televisionadas e, quando são, transmitem-nas distorcidas.

No mais, abraços e convido a todos que queiram se juntar a nossa luta. Sabemos como é fácil marginalizar os movimentos que insurgem por melhorias nas estruturas de nossa sociedade. Sabemos que não será fácil, que muitos dirão que queríamos a paralisação por causa das festas. Essa visão distorcida só será realidade se quisermos, e afirmo que estamos aqui na UFS pra mostrar que os estudantes são capazes de fazer uma luta séria. Mas só teremos força e conseguiremos resistir se permanecermos unidos e, de preferência, formos muitos.