quinta-feira, novembro 23, 2006

A história dos meu avós...

Bom, vou contar uma história que, verdade ou meia-verdade, é assim que me foi contada e é assim que a contarei pra vocês. É a história dos meus avós paternos. Meu avô, o velho João Ribeiro, era soldado de Paulo Afonso (BA) e um dos homens-de-ouro do Nordeste. Aí você me pergunta: – Mas o que são “os homens-de-ouro”? Bom, eram homens mandados pra resolver conflitos em determinadas regiões do Nordeste. Homens que não tinham medo e que cumpriam qualquer missão. Eles iriam a qualquer lugar prender quem quer que fosse. Numa dessas missões, meu avô foi até Pão-de-açúcar – Alagoas. Lá, ele conheceu minha avó, Dona Oliva. Não sei como ele a viu e que impressão teve, mas deve ter sido boa, pois, ao voltar lá pela segunda vez, casou-se. Minha avó sempre falou que ela havia se encantado com aquele homem alto, de uniforme e (como num conto de fadas) montado num cavalo branco. Minha avó tinha apenas 16 anos e meu avô mais de 30. Foi amor à primeira vista.
Mudavam-se com freqüência. Moraram em muitos lugares no interior da Bahia e no decorrer dessas mudanças tiveram 18 filhos! Umas das explicações da minha avó e de meus tios é que ainda não havia chegado televisão por aquelas bandas naquela época. Meu pai, seu Sebastião (ou mais conhecido como Sebá, Galego do celular ou Bahiano), nasceu em Antas – BA (não tirem onda, ok?!).
Mesmo com uma família tão grande, meu avô não deixou de viajar. Então ele deixava minha avó buchuda (tradução: grávida) e, quando voltava de viagem, ela já havia tido a criança. Voltava com tanta saudade de minha avó que acabava por deixá-la grávida de novo. Era um círculo vicioso. Uma baita contribuição para superpopulação humana.
Minha avó, coitada, ia se virando pra criar os filhos da melhor maneira possível. À medida que os primogênitos iam crescendo, ela ganhava apoio para cuidar das demais crias. Dessa maneira, a filha mais velha, tia Deceles, perdeu a infância cedo para cuidar dos irmãos mais novos. Era uma segunda mãe.
Minha avó nunca beijou meu avô na boca. Sempre teve nojo do beijo. Quando eu dizia a ela que isso era loucura e que beijar na boca era uma das melhores coisas da vida, ela resmungava e entortava a cara meio que querendo dizer: – Vocês é que são loucos!
Hoje tenho incontáveis primos. Óbvio que os filhos, netos e bisnetos dos meus avós têm menos filhos (já não passam mais de 10 por casal), mas ainda é padrão na minha família o “crescei e multiplicai-vos”. Então, o fato de eu ainda não estar casada e nem se quer ter um namorado (quando todos os meus irmãos e 90% das minhas primas já casaram) é considerado uma aberração. Nas festas as pessoas sempre perguntam: “E vc? Já está com namorado?” ou “você não pensa em se casar?”. Por isso gosto tão pouco de festas familiares... Sinto-me tão deslocada... Mas confesso que quero sim juntar minha escova-de-dentes com alguém... na verdade... escrevi esse texto porque sou um ser nojentamente romântico e acho a história dos meus avós linda. E isso não se compara ao relato de minha avó com sua voz apaixonada, com seu olhar distante, tentando enxergar um tempo pretérito, mas que é só seu. Sempre que a ouvia contar essa história, via seu olhar no horizonte e tinha a forte impressão de que ela olhava para meu avô chegando em seu cavalo branco. Chamando-a para perto de si. Eis que minha avó, se existir vida pós-morte, está finalmente perto de reencontrá-lo. Agora uma mulher miúda numa cama, raquítica, diferente daquela mulher que sempre vi forte, limpando a casa, trabalhando na feira, andando léguas com uma balde d’água na cabeça (daí sua cabeça chata) e cuidando de seus 18 filhos.

Vai minha avó. Vai que meu avô te espera...
e sei, que por mais adversa que tenha sido sua vida, você foi feliz.
20/11/2006

terça-feira, novembro 14, 2006

Eternamente...

"Ó Minas Gerais... que te conhece não esquece jamais..."

ainda...


Eis que determinadas coisas me molestam a alma...
Ainda não me tornaram insensível
E minha árdua luta pelo que parece ser invencível
É ainda, diante de tanta injustiça, conservar a calma.

Talvez acalente meus amigos por egoísmo
Pra ver se acalentado-os, eu aindo consigo de algum
jeito mansidão.
Em vão, percebo que é momentâneo, pois adiante vejo logo
um estranho que precisa de pouco e antes só quisesse um pão...

Como conseguir ir em frente sem enxergar que nesta sociedade de pouca oportunidade, nossa pseudo-felicidadede de outrém é escravidão?
Lorena Vieira Ribeiro
14/11/2006

Seguindo a corrente...

"Ah! Bobo o ser humano...
que não se deixa sentir plenamente.
Que se contém, que se sufoca,
que se poda, que se mente.
Tudo quer entender, tudo quer definir
e tudo quer conceituar.
Abrir o próprio cerébro,
esmiuçar as entranhas,
analisar o coração.
Pois, da emoção eu lhe digo
que não se analisa, se deixa
que não se entende, se sente.
Eis que a queixa é puro instrumento de castração.
E para quem se apaixona, o maior erro é perder uma oportunidade
E para quem ama, vai em frente, que não se deve desperdiçar felicidade."
Lorena Vieira Ribeiro
Julho de 2005 - eu acho...